quinta-feira, 22 de maio de 2008

Verão de 2008

Janeiro de 2008

Pensei que estar só seria insuportável. But, once again, a solidão vem e se apresenta como uma companheira criativa, que me ajuda a valorizar coisinhas minhas, antes abandonadas e atiradas ao lixo.

Sinto- me forte, acho que foi a força do sol na minha pele bronzeada. Este verão está sendo muito especial, me permito sentir o rei me queimando, deliciosa sensação. Enquanto a pele muda de tom, meu interior vai se externando e tenho a certeza da mulher muitas vezes menina, que insiste em vir e dizer que está viva.

Já fiz tantas promessas pra mim mesma: “nunca mais vou amar quem não me ama”, “nunca mais vou atrás de alguém”, “nunca mais vou demonstrar meu sentimento a quem duvida do seu”. Tolices que podem dar versos a um sambinha simplório. Fiquei devendo pra mim mesma, que o outro me descobrisse.

Quero uma vida simples, sentar no chão, apreciar a perfeição de uma flor no vaso da sala. Quero escrever, poemas? Um diário? Tudo vale a pena... Serão palavras sobre a grandeza que tenho em meu coração, sobre a beleza que é saber-se capaz de amar, intransitivamente.

Aqui de onde estou sentada, observando o ir e vir de pessoas, sinto que o burburinho me levou junto. Eu permiti que as necessidades dos outros tolhessem minha essência. Minha alma, tão feminina, delicada, precisa da quietude singela para buscar justificativa para a vida.

Nas minhas buscas por companhia, na busca para acabar com a solidão letal, nas fraquezas de intermináveis noites frias, me senti avulsa e irremediavelmente só e tristonha. Se fosse frágil mentalmente, teria caído no beco da depressão. Fiquei de pé. Resisti. O chão do meu quarto tornou-se o rio, porém de águas paradas, que logo evaporavam enquanto meu corpo cansado tentava repousar no possível aconchego do algodão de meus lençóis.

As situações embaraçosas estão todas justificadas e por Deus perdoadas. Sou imperfeita, pecadora. Minhas preces não foram suficientes para me livrar de todo o mal. A grande mulher é pequena e frágil. Perdoa-me. Senhor, e livra-me do sofrimento eterno!

Daqui observo a calçada, pessoas, carros e as luzes de um início de noite. Tudo dispersa minha escrita insegura. Digo a mim mesma e com que insistência previsível: sou uma senhora com jeito de menina. Um dilema a ser decodificado. Ah, não... já tenho a resposta. Devo extrair o melhor de ambas.

Pequenos sonhos e planos. Dou a mim o direito de tê-los, inventá-los e buscá-los antes não permitidos. Por que não agora? Esse é o momento exato, já que metade de minha vida já se foi.

De novo o calor dele aquecendo meu corpo estirado na areia. Horas e horas de relaxamento e as idéias pulando aqui e ali. A brisa vem, vez em quando, e sinto prazer por esse momento meu, de intimidade e integração com Deus e comigo.

A perspectiva: um pintor mostraria com habilidade o que vejo da janela. Depois ele desceria e, de outro ângulo, traçaria o desenho. Espumas cintilantes vêm de dentro de um mar escuro, refletindo o dia nublado de ontem.

Minha vista alcança uma costa, uma montanha sinuosa, verde escura, vital, em que as águas salgadas buscam seu caminho no vaivém infinito. Banham-na, num fim de tarde cheio de ares. Contrastante a plenitude do mar com suas águas compridas e o barulho dos grandes brinquedos dos homens, que os exibem como crianças que mostram o brinquedo ganho no Natal.

Definitivamente, é embasbacante admitir que os seres humanos preocupam-se mais com o conforto material que com valores e sentimentos. Isso não combina comigo, e, mais uma vez, me sinto de fora, como observadora do mundo. Cadê meus semelhantes? Só os poetas e os hippies sujos. Foge às minhas concepções escolher alguém que tem em detrimento de alguém que é.

Parole, parole, parole. Seu poder é imenso. Mar, beijo, vento, verso, prazer. How strong the words are!

O prazer do sol em meu corpo, e finalmente não dói a minha pele, que, pacientemente, adquiriu um tom dourado. Meus cabelos estão mais que nunca numa rebeldia de que larguei mão.Tomar sol se tornou meu mais recente vício. Marcas desejadas são visíveis em meu corpo. Quando nublou, entristeci. Desejo de sentir de novo o deleite que o astro me proporcionava.

Janeiros: 1972,1982, 1992, 2002.

A menina-moça gostava do sol, das pernas de fora em mini vestidos que a mãe costurava com capricho. Faz tempo. Tento não me lembrar do que levou à mudança. A moça passou a se esconder em roupas escuras e golas altas, passou a preferir o inverno. Foram décadas de culto ao inverno e à neblina.

Agora não! Venho todo dia buscar o calor do sol e a vista do céu azul, me expôr.Vejam todos, sou eu! O que aconteceu eu faço questão de lembrar. Resgate que vai pegar a menina de 13 anos pela mão e a traz à tona.

Foi o violão do moço, que cantou e me fez sentir sua fonte única de inspiração. Não tem importância se desconfio de que é tudo mentira O que me importa é sentir-me viva. Na minha promessa de dizer não, fui dizendo pequenos sins ao moço da voz bonita. Não tem problema não, seu passado é insuportavelmente inadmissível. Não tem importância, ficou o registro do momento.

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