terça-feira, 3 de junho de 2008

Decreto

Meu amigo Luiz me enviou este poema, que curto há anos, e que hoje me fez recordar alguns ideais.


Estatutos do Homem

Fica decretado que agora vale a verdade
que agora vale a vida
e que de mãos dadas trabalharemos
todos pela vida verdadeira

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direitos a converte-se em manhãs de domingo.

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com o seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridão,
e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre
não poder dar amor a quem se ama
Sabendo que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
E que por isso é belo,
muito mais belo do que a estrela da manhã

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
sobretudo brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Só uma coisa fica proibida:
AMAR SEM AMOR.

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou

Fica proibido o uso da palavra liberdade
a qual será suprida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.

A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
ou como a semente do trigo,
e a sua morada será sempre
O CORAÇÃO DO HOMEM.
Thiago de Mello

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