segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A funcionária e o artista

Seu cotidiano era monótono. Regrado, planejado, estruturado. Horários, pautas, planilhas. Esse era o universo dela. Agendas, compras, prestações de contas, tudo nos prazos. Uma rotina praticamente insuportável. No limite da sua não necessidade de criatividade e das restrições que seu trabalho lhe impôs, ela pensou e achou uma saída.

Seu par (perfeito?) era o oposto. Desregrado, imprevisível, instável. Horários que mudavam na última hora, sem planos. Agendas de telefones, muitas, vários telefones. Atendia todos habilmente. Uma falta de rotina, que a ele já causava alguns transtornos. Justificado, tudo que não dava certo, ao ócio que sua criatividade demandava.

Encontraram-se. Ambos falidos. Ambos sem esperança, tentando um último encontro em suas vidas, que justificasse manterem-se vivos. Cada um tinha uma história, longa. Desamores, traições, falta de atenção. Cada um ao seu modo, buscava no outro companhia, compartilhar, emoção.

Ela, pensativa e reflexiva, percebeu que o que buscava no outro era impossível de obter, já que ela mesma era indisponível. Ele? Misterioso e de vida social ativa, demais para ela poder entender ou conviver. Ele não entendia os motivos que a levavam a ter essa necessidade de tudo planejado, acertado e justificado.

Assim, foram ambos caminhando, cada um na sua trilha. Zerados.

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